A igreja publicou uma carta com recomendações em abril deste ano, que foi lida em todas as congregações, segundo o documento. (fonte:g1go)
“Não devemos votar em candidatos ou partidos políticos cujo programa de governo seja contrário aos valores e princípios cristãos ou proponham a desconstrução das famílias no modelo instruído na palavra de Deus, isto é, casamento entre homem e mulher”, diz a carta.
O motorista de aplicativo Daniel Augusto de Souza, de 45 anos, irmão da vítima, contesta a versão do cabo da PM. Ele estava na igreja no momento da discussão.
“Meu irmão saiu para beber água e o policial também. Do lado de fora, meu irmão, o policial e outra pessoa começaram um debate sobre quem da igreja apoia ou não o governo, que os membros não deveriam votar na esquerda, como indicaram os líderes”, comentou o irmão.
O g1 não conseguiu contato com a Igreja Congregação Cristã no Brasil. A reportagem questionou ao Tribunal Regional Eleitoral de Goiás (TRE-GO) se a publicação de recomendações políticas por igrejas é considerada crime eleitoral e aguarda retorno.
A reportagem também questionou à Polícia Civil e à Secretaria de Segurança Pública se vai haver investigação do caso e o motivo de o boletim de ocorrência não ter sido registrado como tentativa de homicídio e aguarda retorno.
A Polícia Militar informou em nota, nesta sexta-feira, que o cabo da corporação estava de folga no dia da briga, que aconteceu na última quarta-feira (31), no Bairro Finsocial.
“Assim que a Polícia Militar tomou conhecimento do caso, determinou a instauração de procedimento administrativo disciplinar para apurar as circunstâncias do fato. Informamos ainda que o policial militar apresentou de forma espontânea na delegacia de Polícia Civil para os procedimentos cabíveis”, diz a nota.
Davi Augusto de Souza está internado em Goiânia, passou por cirurgia na perna e segue estável, segundo o irmão dele. Ele relatou também que o culto seguia normalmente enquanto o irmão era atendido por bombeiros no corredor do templo.
O boletim de ocorrência foi registrado por lesão corporal culposa, quando não há intenção de machucar a pessoa agredida. No documento, estão apenas as versões dos policiais militares que atenderam a ocorrência.
“No local, segundo informações, houve uma discussão entre dois indivíduos e o cabo Vitor da Silva Lopes. Os indivíduos tentaram entrar em luta corporal com o policial, que para se desvencilhar de um deles efetuou um disparo que alvejou a perna do envolvido”, relata o documento.
Política na igreja
Daniel Augusto contou que a briga e o tiro são, na verdade, resultado da entrada da política na igreja, que vem acontecendo há algumas semanas.
“O problema foi a entrada da política na igreja, que começou com essa guerra entre quem apoia ou não o governo. Um líder começou a fazer política durante um culto e dizer que os membros não deveriam votar em candidatos de esquerda, que chamou de ‘vermelhos'”, explicou Daniel.
No momento de indicação de votos, o motorista disse que levantou a mão e argumentou que a igreja não é lugar para fazer política. “Nenhum político doa dinheiro para igreja, para que falar de voto, então?”, questionou.
“A partir daí, virou uma confusão séria. Os líderes se reuniram para avaliar o que ia ser feito com isso e no dia de uma reunião sobre o tema, aconteceu essa discussão e o tiro contra o meu irmão”, lamentou Daniel.